Terezinha Saraiva 12/8/200
Folha Dirigida - 7/8/2008
Tenho muito interesse em conhecer, estudar e escrever sobre pesquisas realizadas. Hoje, vou abordar as informações levantadas pela pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil" realizada por encomenda do Instituto Pró-Livro, criado em 2006, por entidades do mercado editorial. Embora seu maior objetivo tenha sido, certamente, levantar dados para orientar as Editoras, em relação à organização de seus catálogos, para conhecer seu público consumidor em potencial, a pesquisa trouxe um alerta para as escolas, para os professores, para as famílias. Os dados coletados confirmam o que outras pesquisas já haviam revelado: as mulheres lêem mais livros do que os homens, principalmente quando se trata de livro de ficção. A exceção fica com os livros referentes a história, política e ciências sociais. Das pessoas entrevistadas, que se identificaram como leitores, 17% dos homens disseram ler romance. Entre as mulheres que responderam, a taxa chegou a 41%.
No ano passado, um levantamento encomendado pela Associated Press, nos Estados Unidos, constatou que as mulheres liam, em média, nove livros por ano, enquanto os homens liam cinco. No clássico "A ascensão do romance", publicado no Brasil, pela Companhia das Letras, o crítico e historiador Ian Walt mostra que, já no século XVIII, os leitores de romance eram, em sua maioria, mulheres. O coordenador da pesquisa "Retratos da Leitura, no Brasil", Galeno Amorim diz que "as diferenças entre homens e mulheres não estão, apenas, nas taxas de leitura, mas também nos usos que eles fazem dos livros." Segundo ele, a pesquisa evidencia que a mulher aprecia e dá mais valor à leitura do que o homem, por estar aberta para a leitura pelo prazer, enquanto o homem faz uma leitura mais pragmática.
A pesquisa revelou, também, que a mãe é a pessoa mais importante na formação do hábito de leitura. Ela antecede à escola, que ficou em segundo lugar. O pai vem em terceiro lugar. Esse dado leva a uma reflexão: a que classe pertenciam os leitores que responderam à pesquisa Certamente, às classes A, B e C, já que as pessoas dos grupos menos favorecidos, sob o aspecto financeiro, não dispõem de recursos para adquirir livros, e a maioria não dispõe de tempo para ler, já que está envolvida em uma dupla jornada de trabalho - a que realiza fora de casa e a doméstica. Assim, avulta a responsabilidade da escola como formadora do hábito da leitura, extremamente importante na escolaridade de nossas crianças, adolescentes e jovens, para a melhoria da qualidade da aprendizagem, para a aquisição de informações que são transformadas em conhecimento. A leitura tem importância para a expressão verbal, para escrever bem. Só escreve bem quem lê. Só entende o enunciado de problemas, quem sabe interpretar o que lê. Na falta de pai e mãe que despertem nos seus filhos o encanto, o prazer, o amor pela leitura, compete à escola e aos professores incluírem em sua prática docente, tempo destinado à leitura, para formar o hábito de ler. Essa aprendizagem começa na pré-escola, por meio de várias atividades. É preciso que, desde cedo, as crianças manuseiem livros, contem histórias a partir de suas gravuras. Após a alfabetização, as crianças precisam ter na escola, diariamente, o encontro com o livro, com a leitura. Sabemos, entretanto, que hoje isto não vem ocorrendo na maioria de nossas escolas. Poucas têm bibliotecas; muitas das que existem permanecem fechadas. Não são utilizadas nem por professores, nem pelos alunos. Turmas superlotadas, jornada de aula pequena, professores que não são leitores são alguns dos fatores que fazem com que a leitura não seja uma atividade praticada com a freqüência necessária, nas escolas de nossos dias. Mesmo que as escolas não possuam biblioteca, as salas de aula podem ter um "cantinho de leitura" para permitir que os alunos tenham contato diário com livros, jornais, revistas, revistas em quadrinhos, manuais, receitas de comida, bulas de remédio, e tantos outros materiais e, assim, nossas crianças vão-se tornando leitores, vão descobrindo o mundo por meio da leitura. O hábito da leitura, além do prazer que proporciona, amplia os horizontes e permite um melhor desempenho escolar, perpetuando-se por toda a vida. É preciso que a escola e os professores voltem a dar a importância e o espaço para a leitura, como faziam as escolas de ontem, formando desde cedo o hábito e o prazer de ler, enriquecendo o vocabulário de seus alunos, sobretudo porque, nos dias de hoje, as mães de nossas crianças estão envolvidas no trabalho fora de suas casas, não dispondo de tempo para formar em seus filhos o hábito de ler, sem falar das que, além de falta de tempo, não têm recursos financeiros para adquirir livros, jornais, revistas, para leitura delas próprias, nem de seus filhos. É preciso formar em nossas crianças e adolescentes o hábito da leitura que, além de prazeroso, educativo, cultural, os auxilia para terem um melhor desempenho escolar, além do encanto que a leitura proporciona às nossas vidas.
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