Foi no século XX, mais exatamente a partir de 1980, que a visão de linguagem como um fenômeno social da interação verbal abriu um horizonte heurístico amplo para discutir questões como a da identidade, da subjetividade, da intersubjetividade, da alteridade e das práticas discursivas em geral, envolvendo pensadores como Lev Vygotsky na teoria da cognição; Jacques Lacan na psicanálise; várias correntes filosóficas como o existencialismo.
Vygotsky (1984) teve grande importância para a educação ao enfatizar a origem social da linguagem e do pensamento, sendo o individual e o social elementos mutuamente constitutivos de um todo. Para ele, são as funções psicológicas superiores que se constituem em transformações internalizadas de padrões sociais de interação interpessoal.
Também foi no século XX que se delineou a Análise do Discurso, já citada anteriormente, tendo como espaço qualquer seqüência de enunciados que oferece lugar à interpretação. Assim como todo enunciado é suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, há também o outro nas sociedades e na história, relação que abre a possibilidade de interpretação, já que essas ligações promovem memórias e redes de significantes.
Nesse sentido, para a Análise do Discurso é preciso determinar o lugar e o momento da interpretação, em relação aos da descrição. Já toda descrição abre sobre a interpretação, ou seja, tem o discurso-outro como espaço virtual de leitura. Assim, o discurso incorporado a um “corpus” está arriscado a um apagamento do acontecimento, através de sua absorção em uma sobreinterpretação antecipadora.
Bakhtin mostra-nos a dimensão das relações sociointeracionais para o sujeito ao dizer:
Viver significa tomar parte no diálogo: fazer perguntas, dar respostas, dar atenção, responder, estar de acordo e assim por diante. Desse diálogo uma pessoa participa integralmente e no correr de toda sua vida: com seus olhos, lábios, mãos, alma, espírito, com seu corpo todo, e com todos os seus feitos. Ela investe seu ser inteiro no discurso e esse discurso penetra no tecido dialógico da vida humana, o simpósio universal (BAKHTIN, 1997, P. 293).
De acordo com Martins (1982), na tentativa de entender o mundo, atribuindo sentido ao que nos cerca, damos os primeiros passos na aprendizagem da leitura. Somos capazes de entender o processo da leitura, com algumas orientações, necessitando, além do conhecimento lingüístico, de todo um sistema de relações interpessoais e entre as várias áreas do conhecimento e da expressão do homem e das suas circunstâncias de vida (MARTINS, 1982, pp. 13 e 14).
A autora acrescenta que existe um leitor anteriormente à descoberta do significado da palavra escrita, situação decorrente de suas experiências de vida e do mundo social e cultural que o rodeia. Essa leitura, porém, pode encontrar inúmeros obstáculos nas situações em que as pessoas têm pouco convívio humano ou relações sociais restritas, bem como condições de sobrevivência precárias.
Nesse contexto, assume papel preponderante a memória humana, tanto para a vida quanto para a leitura, quando de fato carrega a lembrança de algo significativo, e a valorização da palavra escrita (signo arbitrário) como instrumento de comunicação e registro da história humana em um sentido democrático, não como instrumento de poder, de discriminação. Assim, é possível perceber que o ato de ler está ligado, de forma absoluta, a condições subjetivas e objetivas do leitor, ou seja, qualquer enunciado será compreendido nos aspectos social, político e cultural em que ele acontece.
Sobre o processo da leitura é importante observar que este se dá em circunstâncias dialógicas entre leitor e objeto, na intermediação com outros leitores e de acordo com um contexto. O processo da leitura é de tal forma complexo, que a ele necessitamos conferir uma explanação, sob pena de incorrermos em um reducionismo ao considerá-lo dependente unicamente do leitor ou do professor ou da escola.
Para Foucambert (1994):
Aprender a ler é entrar na funcionalidade de um modo de comunicação escrita; é entrar, portanto, nas razões e redes dessa comunicação. As aquisições técnicas são conseqüências dessa entrada, não sua causa; não podem, pois, ser separadas dela. Para aprender a ler, é preciso estar integrado a um grupo heterogêneo que realmente utiliza a escrita (ou seja, aprender a ler lendo): a leitura é uma função social (FOUCAMBERT, 1994, p.70).
Joyce Sanchotene
Parabéns pelo blog. Bem escrito e de fácil leitura!
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A. Andrade